Envelhecer é sensacional, a começar pelo fato de que isso
significa que, até agora, vencemos todas as possíveis tentativas da morte sobre
nós!
A idade não traz dor, e traz muito mais coisas do que rugas
e cabelos brancos; ela traz coisas preciosas, e infeliz de quem não se atenta à
elas por estar preocupado demais com as tais rugas e cabelos a colorir...
Eu já cheguei aos 50 anos e como diria Cat Stevens em Father
And Son: “Look at me, I am old but I'm happy”.
Fiz 50 anos não me sinto decadente, ao contrário, me sinto
no auge, pois entendi o quanto já tinha aprendido e conquistado, e percebi todo o
louco peso do qual havia me libertado com a alforria dada pela sabedoria e
evolução adquirida no viver, errar, acertar e aprender do decorrer dos anos.
Eu ainda gosto de me sentir linda, mas já não sou escrava do
padrão e modismos dos outros, sentir-me linda, em paz e feliz é tudo o que me
importa;
Nada de buscar nos outros as respostas que minha consciência
já me apresenta quanto a estar certa ou errada; que maravilha me sentir livre
para assumir um erro e pedir perdão sinceramente, e que maravilha ainda maior
não precisar ouvir do outro “você está certa” ou vê-lo assumir culpas para me
sentir vitoriosa ou em paz... Como é libertador entender que ter paz e sorrir é
muito melhor do que ter razão!
Foi aos 50 que pude comprovar que felicidade rima com
liberdade mais do que com qualquer outra palavra;
A liberdade de escolher se aprisionar em um amor eterno e
verdadeiro;
A liberdade de romper com os conceitos e imposições sociais
e poder escolher o estilo de vida que realmente me faz feliz independente dos “achismos”
dos palpiteiros de plantão;
A liberdade de; depois de tantos cursos, cargos de destaque,
empresas premiadas, palcos e aplausos; escolher ser feliz, e muito, como esposa
e dona de casa porque descobri que não sei se Amélia é que era mulher de
verdade, mas entendi que, com certeza, ela foi feliz de verdade porque viveu da
forma na qual encontrou prazer;
A liberdade de escolher os assuntos que quero estudar, as
causas às quais quero me dedicar, os temas que quero debater;
A liberdade de não me deixar envolver por sentimentos
pequenos, disputas medíocres, maledicências que não levam a lugar nenhum;
A liberdade de parar de tentar ensinar a quem decidiu que
não quer aprender, pois é preciso respeitar até mesmo a insensatez e ignorância
do outro;
A liberdade de ignorar pessoas e sentimentos falsos, e de me
fazer de tola para não os valorizar;
A liberdade de me fazer surda e cega às provocações pelo
simples fato de saber que nenhuma delas pode me abalar, já que o que escolhi
como meu tesouro de valor é pessoal e intransferível: Amor, vida, sonhos e sorrisos;
A liberdade de não ligar para grifes famosas, de não gostar
de baladas, de estudar um idioma que não seja comercial, de não ter a menor
ideia dos 10 hits do momento;
A liberdade de não me sentir obrigada a seguir as tendências
da moda para escolher a cor para pintar os cabelos ou as unhas;
A liberdade de não precisar fumar o cigarro dos cowboys, nem
beber a cerveja das estrelas do axé, nem participar da parada gay ou da marcha
à favor da maconha para me sentir integrada e feliz;
A liberdade de sentir, de querer, de desejar, de me
importar, de lutar pelo que realmente sinto pulsar dentro de mim e de poder ignorar
todo o resto, não por rebeldia ou despeito, mas por pura convicção;
A liberdade de não temer o julgamento dos hipócritas ao meu
redor por conhecer a medida exata de cada um dos meus atos porque a idade me
trouxe o domínio próprio, a paciência, a retidão e o senso de justiça, não mais
guiados pelos meus interesses, mas pela imparcialidade imposta pelo respeito ao
outro;
A liberdade de poder não fingir que gosto, que aceito, que
não ligo;
A liberdade de usar roupas leves, perfumes suaves e de não
me importar em ficar linda quando vou sair, mas de me esmerar em detalhes para
ficar encantadora par ao meu amado quando estamos sós em nosso lar.
Agora que já fiz 50 anos, o tempo urge, e não posso me dar
ao luxo de desperdiçá-lo!
Quero estar de mãos dadas com DEUS, abraçada com o meu amado
e, nós dois juntos, abraçados com a felicidade, amor, paz, leveza e sorrisos;
Quero a vida embalada em boa música, cores alegres, brisa
suave e sabores deliciosos;
Quero admirar a natureza, colher flores, brincar com
animais, saborear taças de bom vinho, cantar tocando baterias imaginárias e
cozinhar dançando enquanto a música alta inunda a casa;
Quero sair do banheiro pelada sem pressa de me vestir, sem
nem mesmo saber se vou me vestir...
Agora eu só quero viver o que é de verdade e totalmente
desassociado de mentiras, farsas, ilusões e ciladas enfeitadas por flores de
plástico;
Agora só me importa a vitória que não oferece troféu nem
aplauso, mas que inunda a alma e a vida de uma felicidade indescritível que
nada e nem ninguém pode roubar, e detesto, com todas as minhas forças, tudo e
todos que possam me afastar desta que é a minha meta.
Nada de assuntos inúteis da vida alheia ou mediações intermináveis
para administrar melindres de gente imatura de todas as idades;
Nada de alimentar egos doentes e de gastar minha boa
paciência com a má teimosia alheia;
Nem pensar em ir onde não quero ou encontrar pessoas que não
me fazem bem;
Nada de gastar tempo ou dinheiro com o que não me faz
sorrir, de me consumir com o que não faz sorrir o meu amado, de me ocupar com o
que quer que seja que não nos deixe em êxtase absoluto de felicidade, amor e
paz;
Pressa? Só de ser feliz e de fazer feliz aos que amo. O
resto pode esperar... E esperar sentado!