Eu peço a DEUS que se tiver que levantar uma bandeira, que ela seja de
justiça e igualdade!
Ultimamente tenho ficado inquieta com o preconceituoso movimento da
sociedade contra o preconceito.
Não consigo entender a luta por igualdade que gera diferenças, nem a
busca de paz que gera separação, segregação. Isso não pode dar certo!
Como se pode esperar que atos segregadores possam promover alguma forma
de bem?
Se pretendemos lutar contra a violência devemos proteger a todos e não
só um determinado segmento social, pois não podemos julgar que apenas a mulher
sofra a dor de uma agressão ou que apenas os homens sejam capazes de agredir;
não podemos imaginar que apenas homossexuais sejam assassinados e que apenas
heterossexuais sejam capazes de assassinar; se pretendemos igualdade, paz e
solidariedade temos que tratar de ser humano, de gente!
Pouco importa o sexo, a idade, a raça, o credo ou seja lá que outra
forma encontremos de “classificar” alguém, ele é um ser humano e pronto, isso é
mais do que o suficiente para que seja protegido de qualquer tipo de violência
ou discriminação, sem que seja necessário separá-lo em um determinado segmento
e destinar-lhe uma lei específica, como se sua dor ou fragilidade fosse
diferente de todos os demais... Ninguém, absolutamente ninguém, pode ser
tratado como mais forte ou mais frágil, pois neste caso estamos nós mesmos, na
tentativa de proteger um, violentando o outro.
Não é verdade que só negros são pobres, que só brancos são ricos, que
só mulheres são frágeis, que só deficientes precisam de calçadas com rampas,
que só homossexuais são perseguidos, que só índios precisam de terras, que só
professores tem salários injustos, que são as expressões politicamente corretas
que vão resolver as desigualdades e injustiças sociais... Tudo isso é uma
enorme tolice, uma enorme perda de tempo que só faz com que nos desviemos do
foco e acabemos por ficar tal qual um cachorro inquieto, correndo atrás do
próprio rabo porque não encontra uma posição confortável para descansar. Não
estamos encontrando uma posição confortável para todos nós em nossa sociedade
porque ao invés de pensarmos no todo e visar sempre o bem comum, cada um segura
uma bandeira diferente e, pensando apenas no que convém aquele grupo
específico, passa a reivindicar direitos que passam a ser apenas regalias, pois
esquecem, agridem ou desconsideram o direito do outro.
Para que uma lei específica para proteger a vida e integridade física
da mulher ou do homossexual se podemos simplesmente lutar para que as leis que
já existem para todos contra agressão, homicídios e afins sejam melhoradas e
cumpridas?!
Como defender especificamente o homossexual de possíveis “constrangimentos
” e discriminações se sabemos que ainda temos em nossa sociedade as mais
diversas formas de discriminação e constrangimento a anões, deficientes físicos,
obesos, idosos, autistas e tantos outros especiais?! Não seria constrangedor e
vergonhoso termos ônibus em que um anão não consegue subir por causa da altura
da escada ou que um cadeirante não consegue embarcar porque não tem elevador
próprio?! Não seria igualmente constrangedor que este mesmo ônibus tivesse uma
roleta onde um obeso não conseguisse passar ou no cinema ou teatro, uma cadeira
onde ele não pudesse sentar?! Não seria mais do que constrangedor e vergonhoso,
mas absolutamente desesperador, um idoso com capacidade produtiva e necessidade
financeira, não conseguir emprego por causa da sua idade?!
Como podemos punir uma empresa ou pessoa de não contratar um
homossexual se os processos seletivos excluem até uma pessoa que possui
restrições ao crédito, independente do motivo que as gerou?!
Como podemos achar que é uma violência a internação compulsória de um
viciado em craque, mas permitir que eles corram loucamente pela Avenida Brasil
colocando em risco, além da própria vida, a vida de outros homens, mulheres,
homossexuais, crianças, idosos, anões, deficientes, cadeirantes e obesos que
também precisam e tem o direito de trafegar pela mesma via?!
Nunca conseguiremos igualdade, paz e justiça social enquanto não
olharmos a sociedade, mas apenas segmentos sociais! É tão simples: somos todos
iguais, com os mesmos direitos, com os mesmos deveres, mas aí alguém pensa em
cotas para resolver tudo e, por exemplo, empresas à partir de um determinado
número de funcionários é obrigada a contratar determinado número de
deficientes... Isso funciona?! Indústrias de determinados segmentos seriam um
ambiente seguro e viável para deficientes?! Isso seria necessário se desde
sempre, lá no comecinho de tudo, na infância, simplesmente olhássemos a todos
como iguais, se todos fossem tratados como iguais e tivessem as mesmas
oportunidades?!
Estes questionamentos, e tantos outros, me motivaram a escrever hoje
porque percebo claramente que estamos complicando tudo, ou pior, destruindo tudo,
pois em defesa da igualdade estamos gerando rivalidades sociais! Temos todos os
mesmos direitos e deveres e somos todos iguais perante a lei, mas temos peculiaridades
e por isso o fundamental é que criemos em nossa sociedade espaço para todos de
forma natural, para que todos possam se adequar, criar caminhos, explorar possibilidades
e então promover o desenvolvimento social com igualdade para todos. Se todos
tivermos garantida nossa saúde, segurança e integridade física; condições de ir
e vir livremente; educação profissionalizante de qualidade para todos e
adequadas a todas as deficiências; possibilidades de exercício de
empreendedorismo e a certeza de que temos uma lei simples, direta, objetiva e
única que funciona igualmente para todos, teremos então a tão sonhada sociedade
justa e igualitária, mas enquanto estivermos preocupados em como chamaremos
aquele “negão camarada”, em não cantar mais a “nega do cabelo duro” ou a “mulata
cuja cor não pega”, ou muito pior, se estiver preocupados em não ler Monteiro
Lobato que “discriminava” a Tia Anastácia, seremos como o cachorro que não consegue
se acomodar. Aliás, sinceramente, não conheço nenhuma bandeira mais
preconceituosa do que esta tola bandeira do politicamente correto...
Que afrodescendentes nada, nós temos é o nosso alegre negão;
Sem essa de deficiente visual ou deficiente auditivo, nossos irmãos são
cegos e surdos;
Que obeso mórbido nada, viva o gordo!
Todo este “cuidado” em como chamar, em que palavra usar para chamar ou
se referir a uma PESSOA só mostra que a estamos olhando de forma diferente, com
melindres e constrangimentos que não cabem, criando sensações pelas quais elas
não merecem passar, pois a importância não está na palavra, mas em como ela é
dita!
Quando li sobre a “autoridade” que pretendia impedir as escolas de
indicar os livros de Monteiro Lobato por entender que ele praticava discriminação
racial com a Tia Anastácia, imediatamente percebi que ele, na infância, não leu
tais livros, tivesse lido não falaria tal asneira! Alias, fiquei surpresa com
sua mente escura e preconceituosa, pois com seu olhar segregador conseguiu enxergar
o que ninguém nunca viu!
Qualquer um que entrou no mundo do Sítio do Pica Pau Amarelo se
apaixonou pela negra Anastácia a ponto de chamá-la de tia, desejou seus abraços
gordos e a doçura de suas guloseimas! Tia Anastácia de tão amada por todos os
personagens e, é claro, pelo autor, embora fosse empregada, e eu só percebi
isso depois que cresci, era tratada e amada como se da família fosse e entrou
gloriosamente para a família de todos os que ousaram ser puros e totalmente livres
de preconceitos a ponto de viajar para o Sítio!
É por tudo isso que tenho medo de tantas bandeiras! As defesas de “classes”
são perigosas porque se tornam cegas e egoístas... Mulheres não precisam ser
contra homens para ter seus direitos garantidos e o mesmo acontece com negros
com relação aos brancos, com homossexuais com relação aos heterossexuais; com
deficientes com relação aos sãos; com idosos ou crianças com relação aos
adultos. Já temos muitos problemas a resolver, não precisamos inventar disputas
loucas! Chega de inventar “guerrilhas sociais”!
É óbvio, a igualdade e justiça só acontece se honrarem seus
significados mais simples, se, portanto, for igual e justa, se privilegiar
alguém ou o que quer que seja, quebrou seu princípio básico e se esvaiu em si
mesma, acabou, se perdeu.
Não se consegue paz, amor, igualdade e justiça a partir de segregação,
isso é burrice!
O direito de um termina quando começa o do outro; se não fizermos ao
outro o que não gostaríamos que fizessem com nós mesmos, independente de que “classe”
representamos, estará tudo resolvido.
É aquela máxima que todo mundo repete,
mas pouquíssimos praticam: amar ao próximo como a si mesmo!
Simples assim.
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