sábado, 10 de dezembro de 2011

Mensagem ao Jô Soares


Jô, inteligentíssimo, Jô!
Tal qual uma de suas personagens, acabei de devorar seu último livro e preciso lhe agradecer pela aula de história disfarçada de romance policial divertido na medida perfeita, praticamente impossível de abandonar antes de ler a última palavra do último parágrafo do último capítulo.
Sendo mulher e gorda, agradeço ainda especialmente à bem humorada e sutil, mas nem por isso menos verdadeira, defesa e tradução do que significa ser gorda nesta nossa sociedade “gentil” que luta pela liberdade e igualdade dizendo-se livre de preconceitos, que quer o casamento de homossexuais, mas ainda não conseguiu dar a liberdade de ir e vir a seus cidadãos condenando obesos a prisão nas roletas dos ônibus, a ficarem de pé nos cinemas ou a caírem nas lanchonetes vítimas das infernais cadeiras de plástico que invadiram restaurantes e lanchonetes, tudo isso sem falar das minúsculas cabines dos banheiros públicos, com as portas abrindo para dentro que esmagam nossas curvas generosas na entrada e na saída... Que pena que o louco assassino não tenha percebido que sua mãe, que conhecia as agruras de ser obesa, queria, ainda que de forma torta, livrar-lhe deste destino.
O texto extremamente prazeroso e com vocabulário riquíssimo (outro grande benefício ao leitor) certamente também vai lembrar à sociedade desatenta que, além de gordos existem ainda, esquecidos pela sociedade, os anões e outros tantos com talentos ignorados pelas diferenças que a natureza lhes ofereceu, todos especialistas no mal de todos os séculos: Bullying!
Personagens cativantes, reais e perfeitos em suas imperfeições num cenário pintado com genialidade sem usar um único pincel, rico em detalhes mais do que qualquer fotografia, chegando a dar medo de que, um dia transformado em filme, seja quebrado o fantástico encanto de As Esganadas.
Eu, como gorda assumidamente feliz, comecei a ler receosa de que o tema virasse moda e, a esta altura de vida, fosse eu condenada a um regime, já não pela ditadura da moda que faz tempo mandei às favas, mas por um destes “estilistas radicais” que gostasse da ideia partindo para nosso extermínio, e qual foi minha surpresa, agradável surpresa, ao ler não uma condenação, mas a descrição cuidadosa de gordas bonitas, desejadas, amadas e talentosas perseguidas por um magro doente e infeliz porque desejava comer (Ah, que deliciosa vingança!!! rsrsrs) e ainda me deliciar com a prisão do assassino por um Português gorducho e INTELIGENTE!
Ah, Jô, você é SHOW!!!
Para você meu aplauso e especial admiração.

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