quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Os Três Porquinhos

É antigo o dito popular que alerta para o perigo da mentira, "a mentira tem pernas curtas", mas parece que ele ficou esquecido, perdido no tempo, em meio a tantas outras singularidades deste nosso "maravilhoso mundo moderno" que segue sem ética rumo a um lugar qualquer repleto apenas de solidão maquiada de felicidade.
A "evolução" do mundo tirou a mentira do patamar de desvio de conduta e a elevou ao status de estratégia. Campanhas publicitárias, discursos políticos, campanhas de incentivo, bolsa de valores, programas de marketing de rede e sites de celebridades trabalham firmemente apoiados na mentira como se fosse uma matéria prima saudável capaz de produzir bons frutos. Mas o que pode nascer de uma semente ruim?
A mentira que, há anos atrás, repousava serena como uma brincadeira nas conversas de pescador, agora só não é admitida dentre os doentes graves e as crianças. Os primeiros são obrigados pela ética médica a saber do mal a que estão acometidos, não importando o que isso possa lhes causar sob o ponto de vista psicológico e nem o quanto as suas personalidades frágeis possam conduzi-los a um sofrimento muito maior com a consciência da gravidade de seu estado. Nada importa neste caso, a verdade tem que ser dita! As crianças, estas perderam o direito à fantasia, em nome da verdade não podem mais acreditar em Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente ou qualquer outra "mentira" criada pelos adultos. Elas tem que viver com base na verdade... desde que não deixem de atender aos apelos comerciais gerados pelas campanhas publicitárias especialmente criadas para cada um destes personagens e que produzem valores incalculáveis ao comércio mundial. (???)
É totalmente incoerente! Parece loucura, mas o que pode se esperar de um mundo onde a mentira reina soberana e absoluta aprovada pela sociedade como algo necessário e... natural? Você não achou que a mentira fosse produzir coerência, achou???!!!
Hoje é comum se ler sobre um produto e fazer o questionamento: "Será que isso é verdade?"; e quem pode, em sã consciência, escolher um político com base em suas propostas? Todos já sabem que a maior parte do que eles apresentam é mentira, mas não se importam, afinal, quem não mente?!
A mentira se institucionalizou e pior, saiu da esfera comercial e política e entrou nas famílias, amizades e relações de confiança, passando como um rolo compressor por cima de bons sentimentos, impludindo impérios construídos sobre a rocha da lealdade, como se de areia fossem, sem respeitar nada e nem ninguém.
Vivemos dias em que qualquer interesse pessoal ou necessidade financeira é base mais que suficiente para justificar uma mentira, uma "pequena trapassa". (Coloco entre aspas porque não acredito que mentiras, trapassas e afins possam ser medidas em grandes ou pequenas. Elas simplesmente são! São terríveis e danosas não importa a origem ou o tamanho!). Elas sempre começam "pequenas e inofensivas" (como se isso fosse possível!), mas não tarda, crescem adubadas por suas próprias consequências e assim vão, cada uma gerando uma maior, até chegar ao ponto do irremediável e, vindo a tona (sempre vem), ferem e destróem de forma irreparável o que a ética e a moral levaram tempo incontável para construir e aí, pasmem, o mentiroso sempre aparecerá na foto, cabisbaixo e injustiçado, vítima da implacável incompreensão daquele a quem enganou. A mentira sempre vem temperada de covardia, são duas companheiras inseparáveis!
Desde o início do mundo os ensinamentos de DEUS ou mesmo a sabedoria popular, vem alertando para os perigos desta terrível armadilha que é a mentira:
"Não há nada em oculto que não venha a ser descoberto";
"O diabo é o pai da mentira";
"A mentira só dura enquanto a verdade não chega";
"A meia verdade é uma grande mentira"; mas nenhuma destas chamadas à ética e ao comportamento justo de um cristão que tem por obrigação amar a seu próximo como a si mesmo e, portanto, não pode fazer ao outro o que não gostaria que fizessem a ele próprio, foi o suficiente para abafar a ambição e o egoísmo alimentados e amparados pela lógica de um mundo sem compromisso com o outro ou com o que é justo e correto.
Hoje estamos condenados a viver a verdade implacável da transformação das pessoas em seres. Seres humanos? Não creio. Humanidade reporta a sentimentos, pensamentos, esperanças... Humanidade sempre reporta a grupo, a coletivo, a um conjunto de seres tão humanos que precisam uns dos outros para serem capazes de amar e assim experimentar a maravilha de serem livres! A liberdade feliz de poder viver juntos, pois é preciso ser liberto do egocentrismo e egoísmo para ser livre o suficiente para poder conviver! O ser humano não foi feito para viver sozinho, a solidão o aprisiona e consome e lhe tira qualquer possibilidade de felicidade.
Discordo do poeta que diz "e assim caminha a humanidade...". Não! Assim caminham os seres, destruíndo a humanidade! 

O mundo moderno trouxe à moda o "samba de uma nota só", o "bloco do eu sozinho", a filosofia do "primeiro eu, depois o samba", da "farinha pouca, meu pirão primeiro"! Alguém pode achar graça e até seria cômico, se não fosse trágico. E como é trágico e triste ver alguém supor que pode viver tranquilo e feliz e ter vantagens e ser vencedor baseando-se em mentiras, vivendo sob enganos... 
É como a história dos três porquinhos, enquanto os dois mais "espertos" constroem casinhas de palha e madeira para acabar mais rápido e poder ir brincar e debochar do porquinho prudente que demora mais, muito mais, construindo sua casa de cimento e tijolos, totalmente à prova do sopro do lobo mau. Aquele que cede à tentação da mentira verá que ela sopra enorme ventania e lhe deixa ali, sozinho, completamente exposto à vergonha de ser descoberto e desacreditado, lamentando ter perdido (jogado fora) bem precioso do qual ainda não havia se dado conta do verdadeiro valor, pois estava totalmente iludido pelo brilho ofuscante do ouro de tolo, único prêmio oferecido pelas supostas vitórias trazidas pela mentira.
Creio que chegamos ao tempo de dar mais atenção aos contos infantis. 


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